Essa é a nossa primeira postagem de 2010.. Para começar o ano com tudo, não poderíamos deixar de fazer uma avaliação sobre o ano que passou, que foi um ano muito bacana para todo o Circuito Fora do Eixo. Não somos a favor do “Copiar e Colar”, mas nesse caso não poderíamos deixar de postar o texto na íntegra.
“Estamos chegando ao fim do ano mais estimulante e desafiador dessa grande rede nacional que é o Circuito Fora do Eixo. O quarto ano de luta, articulação, correria, comprometimento, razão/paixão, foco, diversão, erros, acertos, conquistas, perdas e todas as demais dialéticas que um movimento como o nosso pode proporcionar, pessoal, comportamental e estruturalmente. Foi o ano onde cada um de nos se transformou em ponto fora do eixo, assumindo uma forte responsabilidade de nos representar em suas cidades, em seus estados e em suas regiões. Fator este que ajudou muito para que todos se percebessem dentro da historia toda, criassem seus respectivos lastros, suas autonomias e que contaminassem pouco a pouco todo o circuito com o tempero de cada um, com as particularidades de cada pessoa e de cada coletivo.
Saímos de pouco mais de 20 coletivos no inicio do ano e estamos fechando a tampa de 2009 com quase 50. Saímos de uma perspectiva de se montar regionais e finalizamos com 5 regionais sólidas e em constante diálogo propositivo. A regional Nordeste começou o ano com apenas um coletivo, hoje são nove, só faltando o Piauí e o Maranhão. A sudeste crescendo absurdamente com destaque para os estados de Minas e São Paulo. A Norte só falta o Tocantins para fechar a tampa. A centro oeste fechou a tampa com destaque para o FDE Goiás. A Sul é a nossa caçula, mas com tanto potencial de crescimento quanto as outras. Conseguimos também viabilizar redes estaduais, com destaque para o FDE Minas e o FDE Goiás, dialogando fortemente com as cidades do interior e ditando a tendência organizacional para os outros estados em 2010.
Ano em que organizamos o Grito Rock America do Sul em 50 cidades do país, preparando o terreno para os quase 80 gritos que serão realizados em 2010. Ano em que nossos festivais se fortaleceram ainda mais, Calango, Jambolada, Varadouro, Contato, Quebramar, Novas Tendencias, Pequi, Release Alternativo, Vaca Amarela, Goma Festival , Seda, Feira da Musica de Fortaleza, Ponto CE, Fogo No cerrado, Maionese, Big Bands, Boombahia, entre vários outros. Ano em que mais de 100 Noites Fora do Eixo Foram realizadas nos mais distantes pontos do país. E que tivemos clareza que não circulamos apenas artistas, jornalistas e produtores , circulamos conhecimento. A economia do Conhecimento gerada pelo FDE é o que nos move nessa batalha, é o que financia nosso BANCO de Estimulo e é o que gera as receitas para o posterior investimento em nosso BANCO do Futuro. Nosso CAIXA COLETIVO é nossa troca de tecnologia, de conhecimento e de estímulo. Ressignificamos a intangibilidade desses conceitos e os transformamos em combustível, material, tangível e altamente explosivo. Transformamos varias idéias e ideais em inteligência coletiva. Valorizamos o processo em detrimento do produto, os Valores em detrimento dos interesses. O indivíduo em detrimento do individualismo. O comportamento em detrimento do mercado.
Ano em que definitivamente pautamos a construção de um sistema nacional de musica independente, transformando coletivos, festivais e casas em uma força política una e umbilicalmente conectada, representadas pelas suas respectivas entidades/movimentos: CFE, ABRAFIN E CASAS ASSOCIADAS. Sistema este que capitaneou e organizou o surgimento da Rede Musica Brasil. E onde tudo começou? Em uma reunião do CFE em recife durante o Porto Musical, contando também com a presença dos parceiros de primeira ordem do MPB-Música Pra Baixar e do Fórum Nacional da Música. Rede esta que fez várias reuniões durante o ano e em todas o CFE foi o movimento com o maior número de participantes, canalizando tudo isso para a realização das Assembléias Setoriais da Música, coordenada na maioria dos estados por facilitadores do CFE, deixando claro o quão somos hoje o movimento cultural com maior musculatura nacional.
E além de estrutural/politicamente contribuímos e muito esteticamente. Várias de nossas bandas citadas como revelações de 2009, como apostas para 2010. Ano onde o conceito de Artista Igual pedreiro, defendido fortemente pelo CFE virou um meme nacional, estando este no discurso de 8 a cada 10 bandas que gerenciam bem suas carreiras atualmente. Onde a Agencia Fora do Eixo tomou corpo e conquistou credibilidade suficiente para atrair bandas fora CFE, produtores, jornalistas e etc. Ano em que ficou ainda mais claro que nossa proposta de circulação de bandas novas e com pouca experiência não são cotas política e sim métodos de fortalecimento dos cenários locais, de troca de experiências e de circulação de conhecimento. Bandas novas que saíram para rodar a três anos atrás hoje são lideranças fortes em seus coletivos contagiadas pelo banco de estímulo.
Ano em que potencializamos ainda mais nossas rotas, podemos hoje sair de Fortaleza e chegar ate Rio Branco no acre, com 22 shows em 24 dias com somente dois day offs. Sem falar no nordeste, em minas, ou no centro oeste onde podemos rodar varias cidades durante vários dias sem day off nenhum. Fizemos juntos mais de 600 eventos no ano, colocando aproximadamente 2 mil bandas diferentes para se apresentar ou mais especificamente uma media de 8 mil artistas. E preparamos o terreno para mais um ousado projeto capitaneado pelo CFE em parceria com Abrafin, Casas e Bma que é o TOQUE NO BRASIL. Que como todos já sabem, vai auxiliar para que estas mais de 2 mil vagas para shows disponibilizadas pelo CFE mais as vagas em festivais e vagas nas casas possam ser viabilizadas em poucos cliques em um único site. Fazer um site como esse é fácil, difícil é ter as vagas a serem disponibilizadas e com certeza ninguém tem mais lastro que o CFE nesse sentido.
Ano onde a Fora do Eixo Discos realmente achou seu caminho. Desde o inicio do CFE em 2006, tínhamos três premissas principais de trabalho. 1- Circulação 2- Distribuição e 3- Produção de conteúdo. A primeira e a última caminharam de vento em popa, e a segunda nunca conseguia engatinhar. Durante os três primeiros anos sempre foi nosso gargalo, mais complicado de se resolver e nem estou falando que resolvemos completamente, mas com certeza absoluta temos um Norte. Temos o compacto.rec, temos banquinhas em vários coletivos, temos lojinhas, vendas na internet etc.. Uma equipe focada, dedicada, que esta pouco a pouco estudando cada ponto, para entregar no fim de 2010 uma distribuidora que consegue vender/distribuir produtos em mais de 50 cidades brasileiras. Difícil quem tem isso a oferecer nos dias de hoje.
Ano em que a nossa equipe de comunicação avançou absurdamente, produzindo mais de três centenas de matérias para o portal, formando correspondentes em quase todos os estados do pais. Onde nossa web rádio se tornou uma realidade, ocupando vários espaços, transmitindo festivais ao vivo, reuniões, seminários e construindo uma rede de web rádios e podcasts pelos coletivos. Onde nossa web tv também deu vários passos, fortalecendo e muito o Audiovisual dentro da rede, e canalizando isso em uma grande celebração na SEDA onde a maioria dos agentes do audiovisual do CFE estiveram presentes pensando o planejamento para 2010, sem falar nas experiências bem sucedidas de transmissões ao vivo dos festivais e também das várias twitcams que rolaram por ai. E tudo isso desembocando no lançamento de nossa rede social que em breve estará no ar, deixando nossos trabalhos ainda mais dinâmicos e nossa inteligência coletiva disponibilizada facilmente para todos os que se interessarem.
Ano em que ganhamos o prêmio de mídias livres, onde ganhamos o prêmio do observatório, onde alguns coletivos se transformaram em APL’s e Pontos de Cultura. Onde somente o Fora do Eixo Minas, por exemplo, conseguiu aprovar mais de um milhão de reais em projetos de lei de incentivo no estado. Em que alguns coletivos movimentaram mais de milhão de reais e que todos os nossos coletivos juntos movimentaram aproximadamente 10 milhões de reais, contando festivais, eventos, casas e a sustentabilidade dia a dia de cada coletivo e de cada integrante de coletivo, aluguel, alimentação, transporte, roupa, remédio, etc, etc, etc. E o mais bacana, democratizando todas as planilhas, dando acesso a todos os números. Foi o ano onde muitos coletivos aderiram ao TEC e disponibilizaram todos os seus dados, não existem segredos em nossa CULTURA LIVRE. Fora do Eixo tec é nosso DNA, escancarado. E tudo isso amparado por uma equipe de sustentabilidade que nos apresentou um programa sólido de estruturação da rede. Elaborando projetos, participando de editais, sistematizando os relatórios e preparando o terreno para a criação de uma possível Fundação Fora do Eixo, que trabalhara entre outras coisas para fortalecer e muito nossa relação com os fundos internacionais em 2010.
Ano em que colocamos a Economia Solidaria na agenda de prioridades do debate na cadeia produtiva da música, onde nossas moedas complementares se ampliaram e muito. Vários coletivos implantando seus cards, outros já mapeando suas planilhas com a intenção também de desenvolver suas moedas, o poder público investindo no desenvolvimento das moedas, os artistas , jornalistas e demais produtores digerindo melhor o sistema de crédito, os coletivos Fora do Eixo entendendo mais a proposta e indicadores e mais indicadores produzidos e sistematizados . Ano em que o Fora do Eixo Card foi utilizado de exemplo bem sucedido em eventos na china, Japão, Espanha, Angola, Argentina, etc e que o FDE recebeu convites para apresentar esse modelo em todos esses países em 2010. E que ficou muito claro que nossas práticas não são de coletivos de música e sim coletivos de Tecnologia Social e de comportamento.
Ano de nosso segundo congresso, no acre, na vibe do acre, no melhor lugar possível para transformarmos os avatares em pele e osso. Um momento único dessa nossa jornada, onde nos encontramos, onde construímos nossa carta de princípios e nosso regimento interno/estatuto/pacto nacional. Documentos esses que estão em fase de maturação, que se desenvolve conforme o nosso desenvolvimento, que amadurece conforme a nossa maturidade e que nada mais é que um espelho, um reflexo dessa nossa inteligência coletiva. Será sempre difícil para nós fecharmos definitivamente nossos documentos, já que somos mutantes, nos ressignificamos a cada nova adesão, a cada novo tópico na lista, a cada encontro presencial. Nos descobrimos como uma grande zona autônoma temporária, que contamina e migra. Uma organização verdadeiramente horizontal, com núcleos decisórios descentralizados, cada ponto, cada estado e cada região com autonomia total, transformando em prática a perspectiva do rizoma.
2010 já chega voando, diversos projetos acontecendo , Grito chegando, Toque no Brasil sendo lançado, reunião das regionais, assembléias setoriais, tudo ao mesmo tempo agora. Do jeito que a gente gosta. Hoje resolvi falar de ontem, porque são as práticas deste ontem é que nos mostram que o Amanhã será sempre o nosso HOJE , o nosso AGORA. Nosso espaço/tempo é o mesmo do Bolt.......... mãos a obra!
Feliz ano novo a todos!”
(Pablo Capilé)